segunda-feira, 3 de agosto de 2009

QUESTÕES POLÊMICAS - AGOSTO/2009

JUREMIR MACHADO DA SILVA

GALVÃO, O PARENTE

A palavra bizarro voltou à moda. Resolvi usá-la. Custei a encontrar um emprego para ela. Pensei bem. Achei. Galvão Bueno é bizarro. Que tipo curioso, esquisito, esdrúxulo, estranho, absurdo, patético! Ele tem um jeito de agente funerário contente com a cerimônia. Ou um de canastrão vendendo enciclopédia para analfabetos.

Podia cantar tango em bordel de Palomas. Estou convencido de que o Galvão merece um emprego no Senado. Afinal, ele é o parente geral, o parente padrão, o parente de todas as celebridades que se acidentam ou morrem. É célebre, ficou doente, Galvão Bueno é o primeiro a entrar no hospital. O Sarney precisa dar um jeito de arranjar um emprego para o Galvão.
De preferência, no Maranhão. Melhor, no Amapá.

Galvão é um chato. A Globo inventou o boletim ao vivo de 15 em 15 minutos para dar notícias mortas. Nada de novo, salvo o boletim e o repórter. Muda de três em três dias. Patrícia Poeta e Zeca Camargo apresentam o Fantástico menos extraordinário do planeta. Fantástico mesmo só o Galvão. Fantasticamente insuportável.
O problema é que a Globo se apropriou do imaginário brasileiro. É dona do campeonato brasileiro de futebol, da Fórmula 1, do Carnaval do Rio de Janeiro, da Copa do Mundo, da Ivete Sangalo, do Gordo Ronaldo e até do especial de Natal do Roberto Carlos. Sem contar das doenças mais importantes. A gripe A é da Globo. É bem simples: adoeceu, é da Globo. Na cobertura da hospitalização do piloto Felipe Massa, a Globo inventou até o boletim pós-moderno: o estado é grave, mas estável, melhorando.
Palavra de Galvão Bueno, nosso herói maior.
Imagino o Galvão Bueno no hospital húngaro:
— E o senhor quem é?
— Sou o Galvão Bueno.
— Quem?
— O Galvão Bueno da Globo.
— É parente?
— Sou da Rede Globo.
Galvão Bueno se toma por Dom Quixote, embora lembre mais o Rocinante. O ex-árbitro Arnaldo é o seu Sancho Pança. O que fizemos na última encarnação para merecer a chatice de Galvão Bueno? Pelo que estamos sendo castigados?
Há muitas coisas na vida mais interessantes. Faz alguns dias, em Santana do Livramento, morreu o professor de Português e Literatura Darci Müller. Eu me lembro dele, ao final dos anos 70,declamando Jorge de Lima em sala de aula: Ora, se deu que chegou (isso já faz muito tempo)/no banguè dum meu avô/ uma negra bonitinha/ chamada negra Fulô./ Essa negra Fulô!/ Essa negra Fulô!'. Como era aquele tempo em que um homem culto ficava com os olhos brilhando ao recitar um poema. Confesso: nunca esqueci dessa negra Fulô. A voz do professor Müller ainda ressoa em mim: 'Ó Fulô! Ó Fuló! (Era a fala da Sínhá.)/ Vem me ajudar, ó Fulô,/vem abanar o meu corpo/ que eu estou suada, Fulô!/ vem coçar minha coceira,/ vem me catar cafuné,/ vem balançar minha rede,/ vem me contar uma história,/ que eu estou com sono, Fulô!' Agora, infelizmente, só me resta o Galvão Bueno recitando futebol. É a nova escravidão.
Bacana.

FONTE: JORNAL CORREIO DO POVO - 02 DE AGOSTO/2009



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