domingo, 18 de abril de 2010

Assentamentos Cuiabá e Jacaré-Curituba dois oásis na caatinga

 Quando camponeses, fazendeiros e governo se unem e não há má vontade neles, o resultado pode ser a criação de verdadeiros paraísos agrícolas, como já acontece no semiárido do Nordeste.



No final de março, nos arredores de Canindé do São Francisco, em pleno sertão do noroeste de Sergipe, as chuvas ainda não chegaram. Há sete meses do céu não cai gota d'água, e o caminho de terra que percorremos é cercado por arbustos secos de cor cinza, pelas figuras espectrais de macambiras (grandes árvores típicas da caatinga) cheias de espinhos, por extensões infinitas de uma terra dura que já começa a rachar.




Desde a alvorada, o sol sobe e ganha força; às 10 da manhã, o termômetro marca 42 graus e a sensação é a de mergulhar num inferno escaldante. Carcaças de vacas e de cavalos aparecem aqui e ali na beira da estrada. Mais à frente, diante de um casebre de pau a pique, pai e filho amarram um toldo de lona numa quixabeira para sombrear uma vaca deitada que não irá mais se levantar. Fazem aquilo por pena, para amenizar a agonia do animal.À medida que nossa Kombi percorre a estrada, em meio à vegetação ressequida e empoeirada, vemos bandeiras nas cores verde, vermelha e preta se agitarem no alto de paus fincados. São bandeiras do Movimento dos Sem-Terra (MST), que indicam acampamentos de sem-terra. Alguns permanecem lá há mais de dez anos, em suas "cidades negras", como são chamadas em razão da lona preta dos barracos, enquanto aguardam decisão da Justiça para a posse definitiva da terra - ou não.






Os acampamentos mais novos são facilmente reconhecidos, pois agora utilizam lonas plásticas de cor cinza-claro. Dali os invasores não arredam pé, à espera de que sua condição de acampados mude para a de assentados. Sempre na visão de um mesmo sonho: fazer no pedaço de terra que tomaram o que foi feito nos dois assentamentos mais antigos da região, Cuiabá e Jacaré-Curituba, surgidos na década de 90.




De repente, em meio à caatinga seca, uma visão de paraíso: imensos tabuleiros verdes, traçados com precisão geométrica, começam a surgir em toda parte. São plantações de quiabo, abóbora, feijão-de-corda, milho, mandioca e pastos verdes que se estendem a perder de vista. Alguém informa que o quiabo produzido nessas terras abastece boa parte da Bahia, de Sergipe e chega até Minas Gerais. A área de plantio da Cuiabá está hoje em torno de aproximadamente 700 hectares, dos quais 80% são plantações de quiabo.


A produção é tão grande que já foi criada a Festa do Quiabo, em 27 de setembro, dia dos santos quiabeiros, Cosme e Damião. Como se explica esse milagre? É simples: a terra fértil é Deus quem dá; a água vem do rio São Francisco; o braço que trabalha é o dos agricultores dos assentamentos de Cuiabá e Jacaré- Curituba, hoje totalmente regularizados.


Para começar, já não é correto chamá-los de assentamentos. Localizados a poucos quilômetros de Canindé, eles são hoje verdadeiros povoados com ruas pavimentadas, praça central com igreja, templos evangélicos, campo de futebol, escolas, creche, dispensário médico, centros comunitários e - última novidade - salão para o aprendizado de informática. "Logo teremos computadores instalados", relata com orgulho João de Jesus, presidente da associação de moradores de Cuiabá, que tasca: "Não vamos mais ficar excluídos de nada." As casas das famílias assentadas são simples, porém amplas e arejadas. Todas possuem varanda e antenas parabólicas de televisão no teto. Também lá, a novela das oito é sagrada... Mas, na estrada que leva aos assentamentos, nada os assinala. Não há placas para orientar os visitantes, como se agora seus moradores não quisessem mais chamar a atenção.


DE REPENTE, EM MEIO À CAATINGA SECA, IMENSOS TABULEIROS VERDES, TRAÇADOS COM PRECISÃO GEOMÉTRICA, COMEÇAM A SURGIR


Cuiabá e Jacaré-Curituba têm gêneses paralelas, porém diferentes.


Já no seu nascimento, o que diferencia um do outro é a forma como se conseguiu a posse da terra. No assentamento Cuiabá praticamente não houve conflito. A histórica fazenda que pertencera à família Brito, esconderijo do cangaceiro Lampião, foi invadida e logo depois o proprietário, Antônio Duarte Dutra, aceitou negociar as terras com os sem-terra e o Incra. Um acordo foi fechado e a transição aconteceu em relativa boa paz. Em apenas dois anos, todo o processo estava concluído.


Em Jacaré-Curituba, porém, a propriedade foi conseguida no grito. O MST descobriu que aquelas terras seriam desapropriadas pelo governo para um projeto de agricultura irrigada, nos mesmos moldes dos realizados em Petrolina e Juazeiro. E as terras seriam arrendadas para grupos investidores estrangeiros. Várias manifestações de protesto ocorreram, as terras foram invadidas por famílias camponesas ligadas ao MST. Depois de uma impressionante marcha de 25 mil pessoas em Aracaju, o governo entregou os pontos e as terras para o movimento.








Jacaré-Curituba é hoje o maior assentamento de migrantes da América Latina, apresentado como novo modelo de ocupação de terras improdutivas. Com cerca de 5 mil moradores, está dividido em 36 agrovilas com 20 famílias cada uma. Diferentemente da maioria dos outros assentamentos brasileiros, em Jacaré-Curituba as casas dos lavradores estão próximas das áreas de plantio.






O MST que se observa nesses assentamentos sergipanos sugere um aspecto pouco discutido na atual profusão de reportagens e estudos sobre os movimentos dos sem-terra disseminados no território brasileiro: o de que parecem existir em nosso país vários MSTs, caracterizados por estratégias, táticas e posturas políticas diversificadas.






Na escola Manoel Messias Cordeiro, em Jacaré- Curituba, uma cena com a garotada que chega para as aulas nos chama a atenção. As crianças são bonitas, saudáveis, vestidas com capricho. Descem em polvorosa do ônibus que as recolhe nas agrovilas e correm para as salas de aula. Cristina, diretora da escola, explica: "Procuramos priorizar a leitura e cativar as crianças no contexto da realidade em que vivem (a evasão escolar é nula). E, lógico, com uma ótima merenda. No início do assentamento, há quase 15 anos, o índice de analfabetismo dos camponeses era de 80%. Hoje, ainda é alto, cerca de 30%, mas entre a meninada é praticamente zero", avalia a diretora, entusiasmada.


"O COMEÇO, A MISERABILIDADE ERA TOTAL. NÃO TÍNHAMOS PARA ONDE IR. COMÍAMOS PALMA E PÃO DE MACAMBIRA" SELMA DOS SANTOS CRUZ

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TEXTO E FOTOS: HEITOR REALI, SILVIA REALI E LUIS PELLEGRINI, DE CANINDÉ DO SÃO FRANCISCO (SE).












Mudanças Climáticas

Apesar dos resultados frustrantes da COP-15, muitos cientistas afirmam que responder ao aquecimento global é tarefa para já.

 Por Jacqueline M. McGlade





O frágil texto de encerramento da Conferência do Clima de Copenhague, que não fixa metas obrigatórias de redução de emissões de gases-estufa, mostra que muitos países ainda não se deram conta das consequências do aquecimento global. Responder aos desafios que ele impõe é tarefa de todos e deve ser iniciada já.



O clima está mudando - mais rápido do que nunca. Desde o início dos tempos, ele passa por alterações. Ao longo de períodos mais quentes e outros frios, a vida teve de se adaptar e evoluir. Mas agora as atividades humanas afetam a dinâmica do próprio planeta. E o mais alarmante, o ritmo da mudança foi dramaticamente alterado, ameaçando levar muitas plantas e espécies animais à extinção.


Ao queimar combustíveis fósseis, temos acrescentado gases de efeito estufa, que retêm o calor na atmosfera, às emissões feitas pela natureza. Como resultado, a concentração desses gases no ar está bem acima do nível calculado em qualquer momento nos últimos 800 mil anos. Inevitavelmente, as temperaturas têm subido também.


Em 2007, o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) publicou seu último relatório científico, mostrando que a temperatura média global aumentou 0,74°C ao longo do século passado. Na região ártica, a temperatura média das partes emersas aumentou em até 5°C durante o mesmo período, e agora há uma forte probabilidade de que o Polo Norte esteja livre de gelo durante o verão nas próximas duas ou três décadas.


As geleiras estão derretendo mais rapidamente do que o esperado, acelerando a elevação do nível do mar e aumentando o número de casos de inundações oriundas de degelo e de escassez de água fora de época em algumas das regiões mais densamente povoadas do mundo.


É claro também que mesmo se pudéssemos parar as emissões relacionadas às atividades humanas amanhã, a enorme quantidade de gasesestufa que já despejamos na atmosfera provocará um aquecimento adicional entre 0,5ºC e 1ºC.


Já podemos ver com o que um aumento de 1ºC na temperatura global acima dos níveis préindustriais se parece. E podemos antecipar o que um aumento de 2ºC na temperatura (o limite máximo aceitável de elevação, de acordo com o IPCC) traria: mudanças na maneira pela qual as plantas crescem, para onde os animais migram e na forma como os ecossistemas funcionam.


Mas um mundo com um incremento de temperatura de 3ºC poderia ser muito diferente. Um número crescente de inundações, tempestades e secas impactaria severamente a maneira como vivemos - nosso acesso à água e aos alimentos e a segurança dos nossos suprimentos energéticos.


No momento em que chegarmos a um aumento de 4°C, a elevação das temperaturas poderia destruir a própria estrutura das nossas sociedades. Algumas áreas atualmente habitáveis poderiam ser incapazes de prover as sociedades humanas, menos ainda de comportar os números populacionais que antecipamos no planeta nos próximos 20 a 30 anos.


 E nem sequer falamos de um mundo onde as temperaturas médias subiriam 5ºC ou mais.




A explosão da vida moderna tem sido construída em torno de suprimentos aparentemente ilimitados de carvão, petróleo e gás, fontes de energia para atender a uma demanda que cresce implacavelmente. O pressuposto de todo o processo tem sido que nosso ambiente natural é capaz de fornecer suprimentos infinitos de combustíveis e de acolher cada vez mais os subprodutos da produção de energia.


Na realidade, é claro, queimar combustíveis fósseis para impulsionar nossa economia tem gerado as emissões de gases-estufa que estão causando o aquecimento global agora. A produção e o consumo de energia respondem por 70% das emissões humanas de dióxido de carbono. Metade dessas emissões é gerada pela China, pelos Estados Unidos e por países da União Europeia (UE).
A demanda de energia nas economias emergentes, incluindo China, Índia, Brasil e Indonésia, deve crescer rapidamente, talvez 100% nas próximas décadas.
Se optarmos por continuar a queima de combustíveis fósseis até que se esgotem os estoques, vamos simplesmente aumentar a quantidade de gases-estufa na atmosfera e experimentar um aquecimento global ainda maior.
Mas há uma alternativa. Mudar para um novo paradigma de geração e utilização de energia, baseado em fontes renováveis e eficiência energética, nos permitiria evitar muitos dos problemas de um mundo mais quente.


Atualmente, tanto as indústrias como as residências desperdiçam muito da energia que produzimos. Na luta contra as alterações climáticas, esse é um lugar óbvio para começar porque uma eficiência energética maior não é apenas reduzir as emissões de gases-estufa - isso realmente nos faz poupar dinheiro. A Agência Internacional de Energia (AIE), por exemplo, estima que cada dólar gasto em medidas de poupança energética evita um investimento de mais de US$ 2 na produção de energia. Pequenas ações em residências, tais como trocar eletrodomésticos por outros mais eficientes, podem ter um efeito enorme quando agregadas em toda a sociedade.


Estima-se, por exemplo, que a proibição das lâmpadas incandescentes na UE, que entra em vigor nos próximos anos, produzirá uma economia entre ? 5 bilhões e ? 10 bilhões (de R$ 12,5 bilhões a R$ 25 bilhões, aproximadamente) a cada ano e poupará a energia equivalente ao consumo anual de eletricidade da Romênia.


Da mesma forma, muitos lugares na América têm proibições locais sobre secar as roupas em varais externos, o que obriga as pessoas a usar máquinas de secar elétricas. Estima-se que as necessidades energéticas dessas secadoras sejam equivalentes à produção total de 15 centrais nucleares.
Assim, as ações para diminuir a demanda de energia são, obviamente, cruciais, porque têm um efeito imediato sobre as emissões de gases-estufa de usinas. Mas essa é apenas uma parte do quebracabeça. Precisamos ainda gerar quantidades significativas de energia, até porque a demanda no mundo em desenvolvimento deverá aumentar rapidamente. Para atender a essa demanda, temos de nos distanciar de nossa dependência dos combustíveis fósseis e nos concentrar, em vez disso, nas energias renováveis.




A UE está a meio caminho de sua meta de atender 20% de suas necessidades de energia oriunda de fontes renováveis, como eólica e solar, em 2020, mas há uma grande variação nas realizações de cada país. Na vanguarda, a Suécia já gera mais de 40% de sua energia a partir de fontes renováveis - um exemplo do que pode ser conseguido com as ambições e as políticas corretas.






Para manter a mudança climática dentro de patamares razoáveis, é preciso limitar a mudança da temperatura média a 2ºC ou menos. Na prática, isso significa que até 2050 teremos de ter cortado as emissões de gases-estufa em pelo menos 50% na comparação com os níveis de 1990. Para os países industrializados, cujas emissões per capita de gases-estufa ainda excedem imensamente a população, a redução terá de ser de algo como 80%.


A eficiência energética e as energias renováveis têm, obviamente, um papel crucial a desempenhar. É importante salientar, no entanto, que há diferentes possibilidades de redução das emissões de gases-estufa e não devemos nos concentrar apenas na identificação das abordagens mais baratas, sem considerar seu impacto total. Fazer mais com nossos escassos recursos exige que evitemos soluções para um problema que criem novos problemas em outras áreas.






Os benefícios de algumas fontes de energia renováveis, por exemplo, podem ser neutralizados pela poluição que causam ou por seu impacto sobre os recursos hídricos. Algumas medidas para combater a poluição do ar vão ajudar a reduzir o aquecimento global; outras vão exacerbá-lo.


Em vez de gerar custos externos, precisamos ter como meta medidas que produzam "ganhaganha" sempre que possível.


Alcançar as mudanças necessárias nas formas de gerar e utilizar a energia exigirá, obviamente, esforços de toda a sociedade. As decisões das empresas e dos consumidores vão, em última instância, determinar o destino do nosso ambiente. Mas os governos têm um papel particularmente importante na criação de incentivos que orientem essas decisões.




Um elemento crucial aqui são os sinais de preço que todos nós enfrentamos como produtores ou consumidores. Nas economias de mercado, contamos com os preços para orientar nossas decisões de compra. Frequentemente, porém, os preços de mercado apresentam uma imagem distorcida dos custos de produção - excluindo, por exemplo, os custos impostos à sociedade, hoje ou no futuro, como resultado da poluição, das mudanças climáticas e assim por diante.






Neste momento, os preços dos combustíveis fósseis muitas vezes refletem o custo de extração e distribuição, mas estão longe de representar a carga total no ambiente. Corrigir essas deficiências utilizando mecanismos como a taxação verde aumentaria significativamente o incentivo para que empresas e indivíduos investissem em eficiência energética e em energias renováveis.


O desafio é considerável e exigirá esforços de todos os setores e todos os países. É crucial, porém, que não adiemos a ação enquanto se debate a atribuição de responsabilidades, porque isso só tornará mais difícil atingir a meta.






A AIE calcula que cada ano que adiamos a mudança para a energia de baixo carbono irá adicionar US$ 500 bilhões (cerca de R$ 850 bilhões) ao custo total do cumprimento da meta de 2ºC. Alguns anos de atraso podem tornar o alvo inatingível.


É claro, portanto, que os custos da demora são muito maiores do que os da ação. Portanto, a mensagem é simples: é preciso agir agora.


Jacqueline M. McGlad é diretora da Agência Europeia do Ambiente. Ela é uma importante bióloga marinha e professora de informática ambiental da Universidade de Londres.

Entre a extinção e a sobrevivência

Enquanto o tigre-de-sumatra corre o risco de desaparecer da Indonésia, no Brasil a natureza mostra que, apesar da intervenção humana, é capaz de se recuperar e servir de abrigo para espécies em extinção



O tigre-de-sumatra (Panthera tigris sumatrae), que habita a ilha de Sumatra, na Indonésia, é uma das espécies mais ameaçadas de extinção. Não é para menos: cada grama de osso do animal vale cerca de R$ 200. E mais: cada tigre rende em média R$ 20 mil no mercado negro. Isso porque, na medicina chinesa, acredita-se que ingerir os olhos do felino pode controlar a epilepsia e curar a malária. Já com as suas garras, dentes e ossos fabricam-se jóias caras, e sua pele é tida como troféu pelos ricos.



Pesquisa na qual foram abordados 326 ourives e proprietários de casas de medicina tradicional chinesa e de lojas de suvenires e de antigüidades comprovou que 23 animais foram sacrificados para compor todo o acervo encontrado. “Estimamos que pelo menos 52 tigres foram abatidos por ano no período de 1990 a 2002”, diz Julia Ng, autora do relatório The Tiger Trade Revisited in Sumatra.


De acordo com a pesquisadora, a população de tigres-de-sumatra caiu de 1.000, em 1970, para 400 ou 500 animais, em 2006. “Assim, não é preciso ser um matemático para prever que o tigre-de-sumatra vai desaparecer, como os de Java e Bali”, afirma Julia.

Enquanto isso, no Brasil, algumas aves ameaçadas têm conseguido sobreviver e até mesmo aumentar sua população, apesar de toda inter venção humana. Segundo revela o levantamento feito pela bióloga Sandra Agnello, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP (Esalq), para sua tese de mestrado “Composição, Estrutura e Conservação da Comunidade de Aves da Mata Atlântica no Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Cubatão, São Paulo”, foram encontradas espécies de aves em alto risco de extinção na área estudada. Entre elas estavam o papagaio-de-cara-roxa, o gavião-pomba, a mãe-da-lua e o macuco.


“Não esperava encontrar espécies indicadoras de qualidade na região, pois se trata de uma área muito degradada devido à construção da rodovia Anchieta– Imigrantes”, observa a bióloga. Em sua pesquisa, ela listou cerca de 170 espécies e constatou que 49% delas habitam a borda da floresta, área mais próxima à rodovia, que é o local onde se encontra a maior distribuição de frutos e bandos.


A autora também comparou seu estudo aos realizados na área de mata cortada pela Estrada Petrobras, em Salesópolis (SP), e na Juréia (SP), lugares mais preservados do que o Núcleo Cubatão. O resultado da comparação foi similar, o que implica dizer que as áreas modificadas pela ação humana ainda conseguem preservar a fauna e a flora originais.


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A Holanda e o aquecimento global

Com boa parte de seu território abaixo do nível do mar, os holandeses já se empenham para defender-se da elevação dos oceanos.




Trecho de praia em Monster no qual a construção de uma nova duna já está em estágio mais avançado. A areia é extraída do leito do mar a 15 quilômetros de distância da costa e levada até ela por tubulações.


Com boa parte do território abaixo do nível do mar, a Holanda é um dos países vulneráveis à elevação do oceano. Mas seu governo está atento à questão e já começa a implementar projetos para manter suas terras intactas.



Na noite de 31 de janeiro para 1º de fevereiro de 1953, ventos e ondas gigantes derivadas de um ciclone no Mar do Norte causaram imensos estragos em países banhados por ele. Na costa leste da Grã- Bretanha, mais de 300 pessoas perderam a vida, 100 mil hectares de terra foram inundados e os prejuízos materiais passaram de R$ 14 bilhões, em valores atualizados. Bélgica, França e Dinamarca também foram bastante afetadas, mas a catástrofe maior ocorreu na Holanda. Naturalmente vulnerável por ter boa parte de seu território abaixo do nível do mar, o país viu 50 de seus diques se romperem, o que permitiu o avanço das águas sobre 200 mil hectares nas províncias meridionais de Zeeland, Noord Brabant e Zuid- Holland. Mais de 1.830 holandeses morreram afogados na ocasião e cerca de 72 mil tiveram de ser evacuados às pressas de suas residências.


Escaldado por essa trágica experiência, o governo da Holanda desenvolveu e implementou um grandioso sistema anti-inundações, elaborado para proteger as desembocaduras dos rios Reno, Meuse e Scheldt. Os trabalhos desse projeto foram concluídos com êxito em 1998, mas a tranquilidade que ele proporcionou até hoje não deixou os holandeses invigilantes. Uma comissão organizada pelo governo para estudar o aquecimento global e suas consequências anunciou em setembro de 2008 que o fenômeno poderia elevar o nível do mar entre 0,65 metro e 1,3 metro até 2100. De olho nessas previsões, o país já está pondo em prática diversas iniciativas para manter intacto o território que conquistou do mar a tão duras penas.


Uma das obras que exemplificam esse esforço contínuo está sendo desenvolvida na praia de Monster, 20 quilômetros ao sul de Haia. Ali, tubulações com várias centenas de metros de extensão expelem areia retirada do fundo do mar, a qual é transformada em dunas por grandes escavadeiras. Iniciada em 2008, a ação deverá estar concluída em 2011, ao custo total de 130 milhões de euros (cerca de US$ 200 milhões). Até lá, mais de 18 milhões de metros cúbicos de areia - suficientes para encher 7.200 piscinas olímpicas - serão despejados na praia a fim de compor as novas dunas litorâneas.


Fonte: REVISTA PLANETA






Nas asas das araras-azuis


 Uma de nossas aves mais ameaçadas recebe há 20 anos cuidados especiais de um programa conduzido no Pantanal sul-matogrossense.




  No Pantanal sul-mato-grossense, o Projeto Arara  Azul é uma iniciativa exemplar. Ele é a prova cabal do que pode fazer, em termos de realização ambiental, a iniciativa privada e a empresarial quando se unem à dedicação e à competência de uma séria pesquisa científica

  Cheguei há pouco do Pantanal de Mato Grosso do Sul, onde vivi, em companhia de um grupo de colegas jornalistas, uma bela experiência:
acompanhar o trabalho de preservação e pesquisa das ararasazuis, espécie até há pouco seriamente ameaçada de extinção, desempenhado pelos biólogos especialistas do Instituto Arara Azul.

A chefe do projeto é a bióloga mato-grossense Neiva Guedes. Cientista e ser humano excepcional, Neiva tem aquela energia vital à flor da pele, típica das pessoas que realmente amam o que fazem: a força da paixão. Graças a essa força, mais muito estudo, dedicação e trabalho braçal – atributos que faz questão de repartir com toda a sua equipe –, ela conseguiu um feito prodigioso em apenas duas décadas de trabalho: triplicar o número de araras-azuis na região do Pantanal.

O Projeto Arara Azul, que atua no estudo e na preservação dessas aves no Pantanal sul-matogrossense, celebrou 20 anos de atividades em 2009. Com efeito, foi em novembro de 1989 que Neiva Guedes, recém-formada, viu um bando de araras-azuis durante uma prática de campo. Foi amor à primeira vista. “Eram cerca de 30 ararasazuis pousadas num galho seco. Quando soube que a espécie estava ameaçada de extinção, e que estava desaparecendo rapidamente, decidi fazer algo para impedir isso”, conta Neiva. Essa decisão se tornou um marco em sua vida: a luta pela conservação da arara-azul em seu hábitat natural. Teve início assim uma missão à qual Neiva até hoje se dedica de corpo e alma.

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