segunda-feira, 24 de agosto de 2009



CORREIO DO POVO


PORTO ALEGRE, DOMINGO, 23 DE AGOSTO DE 2009

‘Daqui só sairei ou preso ou morto’


Getúlio Vargas quebra o silêncio e responde aos oficiais da FAB que insistiam em sua renúncia

Na manhã de 23 de agosto de 1954, Getúlio Vargas pôs fim ao seu silêncio diante da pressão por sua renúncia, agora agravada por um comunicado dos oficiais da FAB.


O presidente, conforme noticiado pela Folha da Tarde (era uma segunda-feira e não circulava o Correio do Povo), interpretava o pedido dos oficiais como um verdadeiro ultimato.


O pedido, que não formulava expressamente o pedido de renúncia, mas que mencionava 'determinada decisão unânime', chegou às mãos de Vargas por meio do marechal Mascarenhas de Morais, então chefe do Estado Maior das Forças Armadas.


Getúlio Vargas assim respondia: 'Fui eleito pelo povo para um período de cinco anos e não me deixarei desmoralizar pelos que pretendem abreviar o meu tempo de governo.


Não renunciarei. Daqui só sairei ou preso ou morto'.


Vargas esteve reunido com o vice-presidente Café Filho na noite anterior, confirmado que não renunciaria, o que determinou o rompimento das relação políticas entre os governantes.


A essa altura, relatava a reportagem da Folha, o Palácio do Catete já estava isolado, permitindo a aproximação apenas de carros oficiais.


Às 23h, foi distribuída uma nota assinada pelo general Caiado de Castro: 'Aqui no Palácio do Catete tudo está absolutamente calmo... A inabalável determinação do governo é de defender intransigentemente o mandato que lhe conferiu o povo brasileiro, cumprindo e fazendo cumprir a Constituição'.


Pairava no ar a possibilidade, como alternativa para sair da crise, de um pedido de estado de sítio ao Congresso.


A prontidão pedida pela Pasta da Guerra se acentuara no Porto do Rio de Janeiro e no policiamento de prédios públicos, como o Ministério da Justiça e a Diretoria das Rotas Aéreas.


Complicando ainda mais a situação dos envolvidos, era divulgada a íntegra do depoimento de Arquimedes Manhães. Nele, o detido confirmava suas relações com Gregório Fortunato e que partiu dele a intermediação para que se conseguisse a importância de 500 mil cruzeiros supostamente destinada à campanha de candidatura de Roberto Alves para deputado federal.


Alves tinha sido secretário particular de Getúlio Vargas e tinha sido preso em 20 de agosto de 1954.

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