quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Davos, bancos e o FSM

Onde já se viu ajudar pobre com Bolsa-Família! Todo mundo sabe que isso é coisa de país europeu atrasado: França, Alemanha, Suécia, Dinamarca, Noruega, enfim. Só quem merece apoio estatal é banco privado. No Brasil, os bancos recusam-se a pagar PIS e Cofins. Devem R$ 10 bilhões ao Estado. O Itaú, depois de muita briga, pagou R$ 1 bilhão de PIS e Cofins atrasados. Não é justo que bancos tenham de pagar esses impostos.

Afinal, alegam que não são prestadores de serviço nem operadores comerciais. Uau! Está na coluna do Elio Gaspari de ontem. Qualquer pessoa de bom-senso sabe que um banco privado é uma instituição filantrópica sem interesse comercial nem fins lucrativos. Existe para servir. Nada mais. Eu tenho uma opinião clara sobre o assunto: só microempresas e empresinhas de fundo de quintal devem pagar PIS e Cofins.



É o que eu sempre digo: o Estado não deve desperdiçar dinheiro com setores sociais improdutivos. Só deve receber subsídio quem é autossuntentável. Salvo o agronegócio. Ficamos assim: bancos não devem pagar PIS e Cofins. O Estado deve cobrir os prejuízos do agronegócio.

Se o Fórum Social Mundial fosse realmente moderno defenderia essas medidas socialistas de redistribuição de renda. Davos faz isso. Os líderes empresariais que lá estão, ainda se curando do mico que pagaram no ano retrasado com a crise financeira internacional, já saíram atirando: acham injusto ter de pagar o Estado pelo apoio que receberam para sair do atoleiro e não querem saber de regulamentação. Temem que isso atrapalhe os bons negócios e prejudique a retomada. Acham que estou mentindo, não é mesmo? Está nos grandes jornais americanos e europeus.


A agência Reuter resumiu assim a situação: "Obama sacudiu os mercados na semana passada com propostas de fazer os bancos comerciais cortarem ligações com hedge funds e fundos de private equity e pararem com algumas operações de tesouraria ("proprietary trading"), além de pagarem pelo auxílio governamental recebido durante a crise". Essa última parte foi chamada de "populismo". Nos últimos dez anos, o Fórum Social Mundial vem denunciando essas operações de redistribuição de renda em favor da turma dos camarotes.

Um encontro que antecipa o futuro só pode ser chamado por seus adversários de anacrônico. Em Davos, em clima de "vamos reconstruir", a estratégia é culpar o Estado pela crise passada do setor privado, acusando-o de ter falhado na regulamentação, e adverti-lo para não provocar nova crise criando a regulamentação que faltou em 2008. Entenderam? A culpa é sempre do Estado.


Os presidentes do Goldman Sachs e do JPMorgan, aqueles que viviam nos assustando com o risco Brasil e que foram os primeiros a afundar, não estarão em Davos neste ano. Precisaram apertar os cintos. Já foram de jatinho particular pedir ajuda estatal. Não é de duvidar que venham a Porto Alegre.

É que agora eles são adeptos do Estado máximo. Por pouco tempo. O tempo suficiente para reaprenderem o mantra: só o Estado mínimo salva.


JUREMIR MACHADO DA SILVA  - Correio do Povo, 28/01/2010.

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