quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A importância das cotas


Eu sempre fui a favor das cotas. Mantenho a minha posição.

É uma política necessária e corretiva. Literalmente. Em certas situações de desigualdade flagrante, só as cotas podem resolver. Sou um estudioso do assunto. Posso garantir. Sei do que estou falando. São inúmeros os contextos em que as cotas podem gerar benefícios sociais incontestáveis.

 Um deles é o futebol. Devia haver cotas para erros de arbitragem. Um juiz não poderia errar sempre, nos momentos decisivos, a favor de Flamengo e Corinthians. Desculpem a brincadeira. Não resisti.

Voltemos aos aspectos sérios do assunto. As cotas representam um mal necessário pelo bem geral. Em alguns casos, significam um bem individual legítimo mesmo quando praticado num regime comunista, ou quase isso.


É o que me prova uma notícia publicada pelo portal UOL Notícias. O que seria de mim sem esse tipo de site?

Estaria perdido. Ficaria sem instrução. Não vivo sem a minha razão diária de acontecimentos inusitados. Eis a informação que me entusiasmou, embora sem qualquer interesse pessoal ou direto: "Uma chinesa da província de Chongqing assinou um acordo com o marido que permite que ela o agrida fisicamente no máximo uma vez por semana. O acordo - assinado perante familiares e testemunhas - foi proposto pelo marido, um homem de 32 anos, identificado apenas pelo sobrenome Zhang, porque, segundo ele, era frequentemente agredido pela mulher, Chen, quando discutiam". Não é fantástico? É a política de cotas do comunismo chinês. Uma surra por semana. Nem uma porrada a mais. No Brasil, tem marido que recusaria o acordo.


Apanhar todo dia também pode ser um direito inalienável. A notícia vai além: "Chen pratica kung fu desde a infância e disse ao jornal Chongqing Evening News que ''não consegue conter suas mãos durante uma briga''". Faz sentido: tem marido que, numa briga, não consegue conter os pés, sai correndo. Outros, claro, começam a chutar. Eu sempre digo aos meus amigos: não casem com lutadoras de kung fu nem com comedoras de tomates secos nem com ex de jogadores de futebol. Chen "admitiu ainda que se arrepende cada vez que vê o marido com o olho roxo". Como se vê, é uma moça de boa índole e mãos ligeiras. Eles se casaram há seis meses e querem continuar juntos. Pelo jeito, Zhang desconhece o ensinamento de um sábio brasileiro frequentador do Bar do Beto e leitor de Confúcio: "O casamento é uma coisa que começa ruim e só vai piorando com o tempo". É pau puro.


Tem mais: "Pelos termos do acordo, ela terá de passar três dias na casa dos pais se passar da cota semanal de agressões". Segundo Zhang, "ela é muito obediente em relação aos pais", que sempre lhe dão apoio e a culpam pelos barracos. Na falta de solução melhor, o juiz, adepto da conciliação e da preservação da família a qualquer custo, poderá propor que Zhang vá morar com a sogra. Assim, ele terá a vida que pediu a Deus e a Mao: morar com a sogrinha e apanhar da mulher somente uma vez por semana. É o paraíso comunista. Eu fugiria para os EUA.

JUREMIR MACHADO DA SILVA

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