segunda-feira, 24 de maio de 2010

O efeito Bial

Na minha atividade de inventor solitário e incompreendido eu já criei o “fator Chico Buarque”, que avalia o grau de racionalidade das mulheres de mais de quarenta anos.


Havia sido, até hoje, a minha maior contribuição para o desenvolvimento de uma teoria genuína e autêntica da brasilidade pós-tudo.


Na melhor tradição dos antropólogos Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro e Roberto DaMatta, eu havia dado a minha resposta à questão primordial sobre a alma verde-amarela: “O que faz o Brasil, Brasil?”


Sem qualquer hesitação, a resposta caíra diante de mim como uma gota d’água numa roda viva, deixando para trás a malemolência, o futebol, o carnaval, a mestiçagem, o guaraná Antarctica e até mesmo os bombons Sonho de Valsa: a paixão das nossas quarentonas pelo Chico Buarque.


Depois, fui obrigado a criar o “efeito Bial”, um sinal de alerta sobre a influência crescente e nefasta de Pedro Bial sobre os jovens mais puros e menos protegidos contra a vontade de virar celebridade.


Detesto falar mal de alguém.


Só o faço por civismo e força maior. Ou por inveja.


Afinal, sou humano, estupidamente humano. Neste caso, o assunto é de interesse nacional. Bial era o orgulho da pátria: bonito, alto, inteligente, jornalista bem-sucedido, correspondente internacional charmoso e competente, falando inglês bem melhor que FHC, etc.


Era tão bom que para alivio de todos desistira até de ser poeta. Em contrário, já teria sido eleito para a Academia Brasileira de Letras, onde acabaria sentado, como um “marimbondo de fogo”, à direta de José Sarney e à esquerda de Pitanguy ou de Paulo Coelho.


O problema é que o perfeito Bial resolveu trocar tudo pela condição de apresentador do Big Brother Brasil, o programa mais genialmente idiota da história genial idiota da televisão brasileira.


Cada país teve direito a chafurdar nesse maná no máximo duas ou três vezes. Só o Brasil já chegou a dez edições e poderá alcançar a marca extraordinária de dez.


Além do mais, pagando royalties para exibir tamanha expressão daquilo que a humanidade é capaz de produzir de mais impressionante. Isso deve indicar algo sobre o nosso caráter. Ou, pior ainda, sobre o nosso gosto.


Podíamos tranqüilamente nos contentar com as nossas novelas sempre tão originais, como Viver a vida, em que o autor, Maneco, põe em cena uma trama sensacional baseada na vida de pai e filho envolvidos com a mesma mulher.


Ésquilo, Eurípides e Sófocles não teriam com certeza tanta imaginação nem fariam melhor.


Certo é que o antes sério e “performante” Pedro Bial passará à história, por cinco minutos, mais ou menos a exemplo de um ganhador do BBB, como o performático autor de uma frase já clássica da nossa nova cultura da imagem: “Vamos dar uma espiadinha básica na casa mais vigiada do Brasil”.


Não bastassem essas frases capazes de envergonhar o mestre de Bial, o originalíssimo e criativo Chacrinha, nosso apresentador mais exposto do país rotulou de “heróis” um bando de fidedignos representantes dos nossos piores fins de semana em casas de praia.


Até aí tudo bem. Cada um se atola onde bem entende, ainda mais se o salário for altamente compensador.


Mas Pedro Bial era um modelo para a nossa juventude bem-comportada. Ele, Vanessa Camargo, Sandy e Júnior, Zeca Pagodinho, Kaká e Ivete Sangalo.


Ninguém mais quer ser correspondente em Londres, correr o risco de morrer cobrindo a distância as guerras do mundo inteiro ou simplesmente viver no ostracismo das capitais estrangeiras com os seus longos invernos e as suas curtas temporadas ao sol de Ipanema. Salvo os feios.


Pedro Bial é um caso perdido.


Está contribuindo para a definitiva espetacularização da mídia tupiniquim. É um feito. Nem Ratinho havia conseguido tanto. Desse jeito, ele acabará tomando o lugar do Faustão. Só precisará engordar um pouco.


O jovem agora sonha em também ser apresentador do BBB e em seguir o modelo Bial.


BBB já é traduzido por Bial, Bial, Bial.


Os jovens Imaginam-se tendo conversas inesquecíveis com as estrelas da “casa” sobre a metafísica do amor ou a natureza da alma.


Sinto muito. Não vejo outra saída. Sei que ele não vai mais se expor à dura labuta de catador de informações.


Repórter, nunca mais!


Pelo bem geral da nação, Pedro Bial deve retornar à sua condição de poeta. O mal era bem menor.


É fácil ser cronista: tudo se repete. Basta mudar o nome de uma novela e tudo continua igual.




Por Juremir Machado da Silva



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