segunda-feira, 28 de março de 2011

Progresso e atraso

Tudo pode virar. O progresso virou atraso. Quem te viu e quem te vê? O principal defensor do novo Código Florestal, que parece só favorecer os ruralistas, é o comunista Aldo Rebelo. O PC do B não é mais o mesmo desde que passou a ser financiado pela Coca-Cola e pelo Mc Donald''s. De olho na Copa do Mundo e nos Jogos Olímpicos, as duas marcas americanas resolveram ajudar o comunismo tropical, que, com o ministro dos Esportes, controla essa área sensível para os interesses do capitalismo ianque. Gostaram desse ianque? Aldo Rebelo é o mesmo que pretendia proibir a invasão de termos estrangeiros na língua portuguesa. Os comunistas do socialismo real, esse que aconteceu na URSS e na China, nunca deram muita bola para a natureza. O negócio deles era o produtivismo.


O mundo anda rápido. Boa parte dos defensores do progresso a qualquer custo não percebeu a mudança: o progresso virou sinônimo de atraso. Progresso hoje é preservar o verde. Atraso é desmatar para plantar soja. Progresso é proteger o meio ambiente. Atraso é derrubar a mata para melhorar as estatísticas e satisfazer o mercado internacional. Progresso é não ceder 1 centímetro em relação às áreas de preservação permanente. Atraso é plantar em beira de rio e construir em encosta de morro. A expressão mais pura do atraso no Brasil atual é a Confederação Nacional da Agricultura da senadora Kátia Abreu. Aldo Rebelo poderia ser vice-presidente da CNA. O filósofo Michel Maffesoli jamais teve dúvidas: capitalismo e comunismo comungam um mesmo ideal: o produtivismo, cuja essência é o progresso à custa da natureza. Os agrochatos anacrônicos não querem nem saber.


O novo Código Florestal pode nascer retrógrado. Reduz as áreas de proteção permanente e dá anistia ampla, geral e irrestrita aos desmatadores de ontem, esses coitados que derrubam a Amazônia e a Mata Atlântica em nome da nossa segurança alimentar. Os progressistas tropicais admiram cidades de puro concreto e arranha-céus como Dubai. Certamente admiram também o autoritarismo vigente nesses lugares bizarros. É a cultura desses lugares hediondos que são os shopping centers, essas fortalezas brutas de concreto onde o clima natural foi substituído pela frieza artificial do ar-condicionado e pela estética asséptica dos aeroportos e dos hospitais de luxo, coisas que cidades de beleza clássica, mas ousada, como Paris, Londres e Viena, mantêm a distância calculada como obras da nova invasão dos bárbaros pós-modernos.


Tudo vira. Sempre que alguém saca a palavra progresso, pode-se ter certeza de que se trata de um conservador determinado a manter tudo como está, salvo o meio ambiente. O mundo das palavras é assim. Estranho. A palavra liberdade passou a ser sinônimo de defesa da desigualdade. Estou sendo chato? É verdade. Tenho mania de falar de coisas sérias e enfadonhas. Bem que eu poderia aproveitar melhor este espaço tratando de jogos emocionantes e profundamente inteligentes como o "BBB11". O problema é que não consigo acompanhar. Minha inteligência não alcança essa lógica do divertimento progressista.


Juremir Machado da Silva

juremir@correiodopovo.com.br


















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