Agora, acho, vai. A Câmara de Deputados deve votar hoje o novo Código Florestal. Será um avanço. Possivelmente para trás. Mesmo assim, um avanço. Servirá, dizem, ao progresso. No Brasil, tudo o que recua serve ao progresso. Faz parte da nossa dialética tropical. A vida é como fazer xixi na tampa do vaso. Parece improvável. Mas é tudo questão de ponto de vista ou de viés. O relator do projeto, deputado Aldo Rebelo, antigo defensor da pureza da língua portuguesa e velho comunista de linha albanesa, embora com boas relações com a Coca-Cola e o McDonald''s, defende medidas que, favorecendo a agricultura familiar, farão a felicidade do agronegócio. Jamais se viu síntese tão perfeita nem tamanha prova do fim da luta de classes. Aldo Rebelo continua comunista por hábito.
Ou por marketing. O novo código deve legalizar o que caiu na ilegalidade por força de uma lei jamais cumprida. É incrível como os ruralistas podem utilizar métodos que condenam no MST. Descumprem a lei, criam o fato consumado e forçam os poderes constituídos a agirem para recolocá-los na legalidade. Fizeram assim com os transgênicos. O fundamento dessa postura é simples: leis burras, ineficazes ou injustas não devem ou não podem ser cumpridas. Tenho a impressão de que o MST concorda em grau, gênero e número. O novo Código Florestal deve anistiar quem desmatou a partir de 2002. Afinal, antes disso, desmatar chegou a ser até uma obrigação. Como a anistia está vindo a galope, no máximo em troca de uma promessa de reflorestamento em 20 anos, teve muita gente procurando aumentar a sua ilegalidade nas últimas semanas para se tornar legal com bons motivos desde esta noite.
Essa anistia, insistem seus defensores, não pode e não deve ser chamada de anistia, pois não seria justo chamar de anistia uma anistia considerada justa e necessária. Ruralistas, que se consideram os verdadeiros ambientalistas, não querem saber de reserva legal nem de manter 30 metros de proteção à margem de cursos de água com 5 metros de largura. Alegam que isso não tem valor científico. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência bombardeou o projeto e, apesar do seu nome, está sendo acusada de retrocesso. Rebelo já disse que não há cientificidade em certas medidas para Áreas de Proteção Permanente. Há ruralistas rechaçando ambientalistas e cientistas em nome do saber. Quem os contraria, é rotulado prontamente de ignorante. Nesse combate, uns veem a floresta. Outros, apenas árvores.
A anistia, que poderá ser confirmada com alguma maquiagem nesta terça-feira, também poderia ser chamada de triunfo da impunidade. O Brasil é o país da impunidade com as prisões abarrotadas. Não é raro, embora divertido, ouvir um beneficiado pela impunidade discursando a favor de mais punição. Nosso novo Código Florestal tem tudo para ser uma consagração da motosserra, o símbolo por excelência da civilização moderna e do progresso, antes do surgimento de uma nova ciência "obscurantista", a ecologia. Mais uma vez, temos a luta de eco e agrochatos.
Juremir Machado da Silva
juremir@correiodopovo.com.
Ou por marketing. O novo código deve legalizar o que caiu na ilegalidade por força de uma lei jamais cumprida. É incrível como os ruralistas podem utilizar métodos que condenam no MST. Descumprem a lei, criam o fato consumado e forçam os poderes constituídos a agirem para recolocá-los na legalidade. Fizeram assim com os transgênicos. O fundamento dessa postura é simples: leis burras, ineficazes ou injustas não devem ou não podem ser cumpridas. Tenho a impressão de que o MST concorda em grau, gênero e número. O novo Código Florestal deve anistiar quem desmatou a partir de 2002. Afinal, antes disso, desmatar chegou a ser até uma obrigação. Como a anistia está vindo a galope, no máximo em troca de uma promessa de reflorestamento em 20 anos, teve muita gente procurando aumentar a sua ilegalidade nas últimas semanas para se tornar legal com bons motivos desde esta noite.
Essa anistia, insistem seus defensores, não pode e não deve ser chamada de anistia, pois não seria justo chamar de anistia uma anistia considerada justa e necessária. Ruralistas, que se consideram os verdadeiros ambientalistas, não querem saber de reserva legal nem de manter 30 metros de proteção à margem de cursos de água com 5 metros de largura. Alegam que isso não tem valor científico. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência bombardeou o projeto e, apesar do seu nome, está sendo acusada de retrocesso. Rebelo já disse que não há cientificidade em certas medidas para Áreas de Proteção Permanente. Há ruralistas rechaçando ambientalistas e cientistas em nome do saber. Quem os contraria, é rotulado prontamente de ignorante. Nesse combate, uns veem a floresta. Outros, apenas árvores.
A anistia, que poderá ser confirmada com alguma maquiagem nesta terça-feira, também poderia ser chamada de triunfo da impunidade. O Brasil é o país da impunidade com as prisões abarrotadas. Não é raro, embora divertido, ouvir um beneficiado pela impunidade discursando a favor de mais punição. Nosso novo Código Florestal tem tudo para ser uma consagração da motosserra, o símbolo por excelência da civilização moderna e do progresso, antes do surgimento de uma nova ciência "obscurantista", a ecologia. Mais uma vez, temos a luta de eco e agrochatos.
Juremir Machado da Silva
juremir@correiodopovo.com.